domingo, 19 de julho de 2009

Era uma vez (parte V)


O Rei ficara apreensivo com aquele comportamento de Veny, mas terminando o café da manhã, foi para seus afazeres normais, enquanto Veny mais uma vez foi para o jardim oeste do castelo, apreciar suas novas cores e flores.

Quando saiu na porta do castelo os cães já a esperavam, dessa vez ofereceram até seus lombos para que Veny montasse e nem precisasse sujar os pés nem o vestido na grama. Eles a levaram em segurança até o jardim recém descoberto pela princesa.

Os cães eram mais que amigos para Veny, eles eram seus verdadeiros súditos. Veny desejava e eles prontamente a atendiam. Eles eram solícitos, dispostos, obedeciam sem questionar. Se Veny quisesse água, eles iam até a fonte mais cristalina de todo castelo e muito rapidamente serviam uma água refrescante. Se Veny queria deitar para descansar e apreciar a luz do sol e tudo o que podia ver deitada, logo eles vinham com uma esteira acolchoada para ela de estender em cima e assim ficar confortável. Eles faziam qualquer coisa para agradá-la, e ela começara a se acostumar com aquilo tudo.

Veny por vezes olhava em seu relógio encantado e a hora parecia custar a passar, pensava Veny e assim era melhor, pois quanto mais tempo pudesse passar descobrindo a diversidade de cores e espécies do jardim melhor. E quanto mais ela olhava, cheirava, sentia mais encantada ela ficava.

Era fascinante e cada vez mais inconformada e enraivescida se questionava sobre a razão do Rei que durante toda sua vida ela sempre admirou, nunca ter mostrado toda aquela belezura do castelo.

Já despontava o crepúsculo e dessa vez o relógio de Veny indicava a hora de voltar. Seus amigos fizeram uma espécie de trenó canino para levá-la de volta ao castelo, deixaram-na na porta e esperaram que entrasse para voltarem a seus lugares, por mais que quisesse continuar acompanhando Veny dali pra dentro, eles sabiam que jamais poderiam entrar, ali era o castelo do Rei, e a entrada deles era estritamente proibida.

Ao entrar no castelo, subindo a escada pé ante pé ouviu distante a voz do Rei perguntando ser era ela, respondera que sim. Havia passado 15 minutos do horário do encontro entre os dois e Veny tinha certeza que chegara a tempo ainda de tomar um banho e trocar de roupa sem o Rei perceber por si só que ela estivera fora àquela tarde. O que acontecera com seu relógio? Ao conferir o horário já dentro do castelo em seu relógio encantado percebera que realmente já estava atrasada, mas pensou que os cães deveriam ter demorado mais que percebera no trajeto de retorno ao castelo.

Não quis saber. Subiu com audácia para o encontro com o Rei suja de terra, de grama, cheiro de jardim e de cães. Foi assim mesmo e não se importara.

Entrou nos aposentos do Rei, pisou com os sapatos sujos em seus tapetes reais, se esparramou na cama real com suas vestes completamente imundas e com aquele cheiro desagradável. O Rei sequer reparara na sujeira, naquele instante ele a observara espantado pela displicência e irreverência que não eram naturais em Veny, não em suaVeny, na sua princesinha, na menina de seus olhos.

Passado alguns minutos Veny começou a despejar tudo o que sentira. Disse de suas fugas ao jardim oeste do castelo e contou das belezas que descobrira por lá, de todas as cores, de todas as espécies de flores, Veny detalhou cada uma de suas impressões ao Rei. Ela levantou-se da cama e numa atitude de afronta disse olhando bem nos olhos do Rei que seus A-M-I-G-O-S cães a levaram até o paraíso que ele tentara esconder dela por toda vida, que ao contrério do que ele sempre dissera eles não a devoravam, mas a serviam como nunca ninguém havia feito com ela. A princesa desfigurada despejou sobre o Rei não apenas a descrição de tudo o que vira, mas toda sua fúria, toda sua mágoa e completou dizendo que iria continuar frequentando o jardim diariamente e que seria muito bom reduzir os encontros entre eles a apenas uma ou no máximo duas vezes por semana e queria ainda que o Rei construísse um palácio encantado para ela e arrematou reinvindicando a permissão dos amigos cães no castelo a partir daquela data.

O Rei quis falar, ela saiu batendo pés e aliviada, afinal agora não precisaria mais se esconder para ir onde quer que fosse.
Àquela noite o Rei passara chorando.


Continua...