domingo, 12 de julho de 2009

Era uma vez (parte IV)


Enquanto trocava de roupa já em cima da hora para o rotineiro café da manhã com o Rei, Veny estava com sua mente a mil, o que diria ao Rei? O que falaria para poder convencê-lo a não castigá-la quanto a ausência da noite anterior? Qual seria o seu castigo?

E ao mesmo tempo não via a hora dessa tortura acabar para poder voltar ao jardim oeste do Castelo com seus amigos cães e poder desbravar um pouco mais do que era a vida fora do castelo.

Ao descer as escada em direção à mesa de refeições, notou que aquele lugar onde vivia há tanto tempo era escuro, tenebroso, e olhando com certo cuidado era até meio assombrado. Naquela manhã, estava quites com o relógio que recebera de presente no dia anterior, desceu devagar, reparando em cada detalhe que antes não olhava. Enxergara coisas que jamais notara.

Viu umas rachaduras nas paredes, a umidade no teto, uma cortina encardida, almofadas empoeiradas, tapetes gastos, quadros meio apagados, chão opaco...

Como nunca havia reparado em tudo aquilo.

Como uma princesa como ela vivia num lugar daqueles e pensou consigo que uma princesa de seu porte não poderia habitar um castelo, ela merecia um palácio cheio de vida, de escravos para a servirem, repleto de luzes das mais variada coloração, uma princesa como ela merecia ser amada e não ter compromissos fixos e diários, afinal, ela era uma princesa nobre, de sangue azul e se o Rei, que era exigente e muito poderoso a havia escolhido é porque ela realmente deveria ser alguém muito especial e valorosa, merecia uma habitação melhor.

Chegando no último degrau sentou sobre aquele tapete vermelho descolorado, apoiou os cotovelos em seus joelhos e o rosto em suas mãos, lembrou novamente daquele lindo jardim no qual passara a tarde do dia anterior e lhe abateu um grande sentimento de insatisfação e de tédio, mas precisava ir. O Rei a esperava e ela ainda nem sabia o que iria responder quando Ele lhe perguntasse sobre a falta da noite passada.

Entrou na sala de refeições cabisbaixa, sentia vergonha, raiva por ter sido enganada, sentia aquele lugar indigno dela, parecia que ao sair das portas do castelo ela não tinha descoberto apenas um jardim florido, mas havia descoberto um jardim que estava dentro de si mesma e que assim como àquele do castelo precisava ser desvendado, pois também lhe era desconhecido.

Assentava-se sempre ao lugar seguinte à direta do Rei, naquela manhã pulara uma cadeira e sentara num lugar mais distante do costumeiro.

O Rei havia acabado de sentar para iniciar seu desjejum e Veny, sequer tinha-o mirado.

O Rei a cumprimentou de longe e sentira falta do beijo na testa que ambos se davam pela manhã, mas continuou sua refeição calado e Veny tão pouco abriu a boca para dizer algo. Era um silêncio ensurdecedor.

Veny comeu quase nada e tão rápido quanto um foguete. Pediu licença limpando a boca com um guardanapo e saiu da mesa, quando estava quase cruzando a porta o Rei lhe perguntara se poderia esperá-la para o encontro vespertino de todos os dias, ela respondeu que sim. O silêncio junto com um esboço de um sorriso de saudade e de amor constrangeram Veny, e dentro de si estava decidida a comparecer ao encontro no fim da tarde. Ela havia tido mais uma surpresa. Nenhuma palavra de condenação, nenhuma interrogação, nenhum questionamento, nenhum castigo, nada...O que ela pode sentir do Rei foi apenas sua ansiedade ao revê-la. Sentira-se envergonhada, enraivada e diposta a contar tudo o que ocorrera ao Rei, mais tarde. Mas naquele momento só pensava em retornar ao jardim e passar uma tarde muito divertida na companhia de seus companheiros cães.


Continua...

Um comentário:

disse...

Acho que, se algum dia eu tiver que escrever um livro, será de contos. Não sei escrever grandes histórias.
Está per-fei-to, Pri!!!!